terça-feira, 12 de abril de 2011

ENTREVISTA: MATHEUS DELLAGNELO


Para representante do Brasil no Pan, falta investimento nos jovens atletas de vela
Paula Carvalho
Matheus Dellagnelo, de 22 anos, será o representante do Brasil nos Jogos Pan Americanos deste ano, em Guadalajara (México). O atleta começou a velejar ainda criança no Lagoa Iate Clube (LIC) incentivado pelo pai, que já havia feito aulas de vela. Em entrevista exclusiva para a AJEsportes, o atual campeão Brasileiro conta um pouco sobre sua carreira.
AJEsportes – Como e quando você começou a velejar?
Matheus Dellagnelo – Comecei a velejar com 7 anos no Lagoa Iate Clube (LIC). Fui um sábado no LIC experimentar, acabei gostando e continuei o curso de vela. Logo após concluí-lo, iniciei correndo regatas no Optimist – um barco essencialmente projetado para a iniciação da vela – e desde então não parei mais.
AJEsportes – Já participou de quais competições importantes?
Matheus Dellagnelo – No Optimist foram praticamente sete anos de vela. Nesta classe, participei de sete sul-brasileiros, seis campeonatos brasileiros, quatro sul-americanos e quatro mundiais. Além disso, tive a oportunidade de rodar o mundo antes dos 15 anos graças ao Optimist e foi muito legal. Após o Optimist, fui para o Laser – barco à vela de classe olímpica –, em que corri oito campeonatos brasileiros, um centro sul-americano, duas seletivas olímpicas e uma pan-americana. Também corri um brasileiro de Snipe ,barco de 15 pés – sendo que um pé corresponde a doze polegadas – para dois velejadores. E há alguns anos comecei a correr de Oceano também. Nesta classe, corri quatro semanas de vela de Ilhabela e outras quatro em Santa Catarina.
AJEsportes – Qual é a sua rotina de treinos?
Matheus Dellagnelo – Eu treino em média duas horas por dia em terra, com treinamentos na academia e corrida e/ou pedalada. E busco treinar três vezes por semana na água. Em virtude da universidade, nem sempre consigo manter o treinamento em água como eu gostaria, mas em terra dá para manter direitinho. Nesta campanha até o Pan-Americano, eu ainda estou tendo que fazer regime, visando baixar de peso para as competições em outubro no México.
AJEsportes - Mudando de assunto, você acha que falta investimento na vela?
Matheus Dellagnelo - Sim, logo depois de eu ter saído do Optimist (classe na qual atingi ótimos resultados) e ter vencido o Campeonato Brasileiro de Laser 4.7, procurei ajuda da Federação para ir ao Campeonato Mundial na Itália, mas não obtive sucesso. Depois disso, eu fiquei altamente decepcionado, fiquei anos sem treinar e só fui voltar a participar de campeonatos importantes em 2009, quando ganhei o Brasileiro de Radial. E, mais uma vez, não tive suporte para correr campeonatos internacionais e a desculpa foi a falta de verba. Enfim, as federações em geral não se preocupam com as categorias de base, não incentivam a nova geração e, por isso, perdem muitos talentos. Sei que nos últimos anos isso tem mudado, mas, mesmo assim, o Brasil tem capacidade e recursos para melhor apoiar os atletas do país. Além disso, a Federação só disponibiliza recursos para o melhor em cada classe, o que faz com que não haja renovação no esporte. Com isso, a vela, que é celebrada como a maior medalhista olímpica do Brasil, poderá ficar anos sem nenhum resultado de expressão.
AJEsportes – Você gostaria de sugerir algo para que houvesse melhorias na vela?
Matheus Dellagnelo – Exemplos como o da Inglaterra deveriam ser seguidos. Lá eles têm três atletas profissionais com total apoio do governo e da federação e mais cinco jovens que treinam junto aos profissionais. Isso sim é oferecer boas condições para os atletas e, ao mesmo tempo, ter um processo de renovação acontecendo. Sei que não é simplesmente ‘má vontade’ da federação daqui, sei da dificuldade que é obter recursos no país, mas acredito que é um assunto que deva ser abordado aos poucos para que assim haja melhoria.
AJEsportes – Como funciona a obtenção de um patrocínio?
Matheus Dellagnelo – É sempre um “parto” conseguir que uma empresa aposte no esporte, especialmente quando não é jogador de futebol ou um gênio, como o Robert. Para mim, a mídia tem obrigação de ajudar nisto. Não podemos cobrir apenas as empresas, como também a imprensa, que precisa valorizar mais o esporte em geral e não focar apenas no futebol. É necessário uma nova estratégia de marketing esportivo para que se melhore as condições dos atletas. Nesta área, os Estados Unidos são um ótimo exemplo. Eles têm uma mídia esportiva muito forte, o que faz com que praticamente todos os esportes ganhem incentivos.
AJEsportes – O que esperar do Brasil nos Jogos Pan-Americanos em Guadalajara este ano?
Matheus Dellagnelo – Espero uma boa participação brasileira. Mesmo com todos os problemas que o país tem no esporte, os atletas darão o máximo e tentarão na raça suprir as dificuldades que encontramos para praticar a vela aqui. O povo brasileiro pode esperar muitas medalhas no México. E, por favor, torçam por nós!
Confira os melhores resultados do atleta
Optimist:
•Foi bicampeão brasileiro, em 2000 e 2001;
•alcançou o quarto lugar no Mundial Geral que ocorreu na China, em 2001;
•no ano de 2001, foi campeão mundial infantil realizado na China;
•foi vice-campeão mundial por equipes em 2000;
•foi vice-campeão sul-americano por equipes em 2001;
•por quatro anos consecutivo ficou entre o cinco melhor atletas de vela do Brasil (2000- 2003).
Laser:
•Foi campeão brasileiro em 2004;
•foi bi campeão brasileiro em 2009 e neste ano;
•foi campeão centro sul-americano ano passado;
•foi classificado para representar o Brasil nos Jogos Pan Americanos, em Guadalajara, no México.

Agência de Jornalismo Esportivo
ajesportes@uerj.br

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